Roger sentiu o braço forte de Colin a puxá-lo para cima, ajudando-o a levantar-se. A nuvem de fumo bloqueava-lhe a visão a mais do que a alguns centímetros de distância à frente do nariz, mas o mercenário parecia não querer esperar que esta se dissipasse.

– Vê se te mexes, Hawkins! Esta é a nossa oportunidade!

Arrastado pelo companheiro, avançou às cegas pelo edifício devoluto, fazendo figas para que não caíssem em algum buraco. No exterior, era possível ouvir os grunhidos dos demónios misturados com o som de armas de fogo e gritos humanos. A avenida parecia ter-se tornado num campo de batalha.

Colin parou abruptamente, fazendo com que Roger fosse embater contra as costas do guerreiro.

– Está calado – sussurrou, prevendo o queixume de Hawkins.

Fez sinal para que espreitasse pela janela do corredor. Um grupo de indivíduos vestidos de negro enfrentava os demónios na rua. Estavam bem organizados, de tal forma que conseguiam manter um grupo de demónios furiosos afastado, e os que se aventuravam mais eram rapidamente abatidos.

– Sabes quem são?

– Os Sombra Negra – respondeu Colin.

Roger permaneceu em silêncio enquanto assimilava aquela informação. Os Sombra Negra eram um conhecido grupo de ladrões e mercenários que tomavam conta de grande parte das ruas de Londres. A sua fama era conhecida pelas várias colónias de humanos que viviam nas redondezas, constantemente saqueadas por aquele grupo sem escrúpulos. Preocupavam-se apenas com os seus intentos, colocando em risco vidas humanas e colónias inteiras apenas por um punhado de ouro ou metal, para não falar dos saques aos mantimentos.

– Que raio é que eles querem dos demónios? – questionou Roger.

Nisto, um dos Sombra Negra surgiu a correr por entre as fileiras de demónios. Transportava nas mãos o pequeno baú metálico que Roger vira antes.

– Ao que parece, o mesmo que nós – concluiu Colin.

– Eles não o podem levar, ou está tudo perdido!

– Por aqui – ordenou Colin, arrastando Hawkins atrás de si.

O mercenário conduziu-os até às escadas de emergência do prédio. Apressaram-se a descer até ao primeiro andar. Roger travou abruptamente quando percebeu que o último lance tinha sido destruído.

– Merda! Temos de…

Antes que pudesse terminar, Colin empurrou-o do patamar, lançando-o contra o asfalto da rua. Roger apenas teve tempo de amparar a queda, caindo numa ruela adjacente à avenida principal. O mercenário também saltou, aterrando no chão com uma facilidade impressionante. Como se andar a saltar de primeiros andares de prédios fosse uma brincadeira de crianças.

– Mexe-te.

Roger levantou-se e seguiu Colin em passo de corrida.

O mercenário correu pela ruela e virou à direita num cruzamento, afastando-se da avenida principal em direcção a uma rua lateral. Apesar de não compreender o plano de Colin, Roger seguiu-o. Há muito que se habituara a não questionar as decisões de Taylor no campo de batalha.

Ao chegarem ao fim da ruela, o mercenário estancou de repente, obrigando Roger a fazer o mesmo. Hawkins aproveitou a pausa para tentar recuperar o fôlego.

O sujeito vestido de negro surgiu do lado esquerdo em corrida acelerada. Sem lhe dar tempo para reagir, Colin Taylor atirou-se a ele com uma carga de ombro, derrubando-o. O baú caiu-lhe das mãos e embateu no chão, fazendo um som metálico. Num movimento rápido, agarrou no baú e atirou-o a Roger.

– Rápido, vamos sair daqui.

Roger Hawkins não precisou de ouvir a ordem duas vezes, desatando a correr atrás de Colin pela ruela. Atrás de si, o sujeito vestido de negro levantou-se do chão dando início à perseguição. O capuz negro que lhe cobria o rosto caiu, revelando as feições de um jovem de semblante duro, cabelos ruivos espetados no ar e olhos verdes.

Continuaram a correr para a avenida principal. Roger apertava o pequeno baú contra o peito enquanto procurava seguir Colin, sem tirar os olhos do jovem. Ao chegarem a meio da ruela, o mercenário afastou um gradeamento enferrujado, abrindo caminho para o interior do que fora um condomínio fechado. Aguardou que Roger passasse antes de atirar com as grades para cima do jovem. Porém este tinha reflexos rápidos e esquivou-se com facilidade.

O arremesso das grades fez o seu propósito: dar tempo a Roger e a Colin para alcançarem o interior de um dos edifícios.

Colin e Roger avançaram pelo emaranhado de corredores afastando-se o mais possível da entrada. A vegetação crescia por entre as paredes e vidros partidos no interior do antigo condomínio. Acabaram por descer à zona das caves e garagens, onde encontraram uma pequena porta de metal que dava acesso à sala da caldeira. Taylor forçou a fechadura e fez sinal a Roger para que entrasse.

Já no interior, Hawkins encostou-se contra a parede e deixou que as suas costas deslizassem por ela até se sentar no chão. Estava ofegante e o suor escorria-lhe do rosto. Mal acreditava na sua sorte, tinham conseguido o que queriam.

Colin fechou a porta e sentou-se junto a Roger

– Vamos ter de arranjar maneira de sair daqui. Não me parece que eles vão desistir tão facilmente. Para já, temos aquele fedelho atrás de nós, mas não há-de tardar para que sejam mais. Isto para não falar nos demónios – comentou Colin. – Mas afinal que porra é essa para toda esta confusão?

Roger não conseguiu evitar um sorriso.

– Esta é a arma que nos vai ajudar a destruir os demónios.

Com cuidado, abriu o pequeno baú e olhou para o interior.

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